quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Abaixo o minimalismo!

A partir da frase acima talvez eu tenha que começar dizendo o óbvio: gosto não se discute. Necessário falar ainda que nossas preferências não precisam ser pétreas. Se hoje eu estou a fim de sair vestida de Gabriela Cravo e Canela, pode ser que amanhã eu queira um visual nude sem um brinquinho sequer pra enfeitar. Isso é natural, sobretudo pra nós, mulheres. E a gente tem mais é que aproveitar mesmo, porque como disse Lars Svendsen em seu livro Moda, uma filosofia, “o que caracteriza a moda hoje é um pluralismo estilístico que provavelmente nunca foi tão forte”. Então, nada melhor que variar.

Mas o fato é que me aborrece terrivelmente a mania que a gente tem de criar paradigmas e verdades absolutas no universo fashion. A tal história de que cores e estampas não combinam com elegância é uma delas. E aí eu trago a discussão especialmente para o nosso país. Tudo bem que querer criar a tal “moda brasileira” já se mostrou bobagem num mundo globalizado, mas não podemos negar que nossa identidade cultural influencia no jeito de vestir. Assim, como aceitar passivamente que só pretos e variações da cartela do bege são elegantes, principalmente no inverno?

Os arautos da moda – leia-se jornalistas, blogueiros, etc. – pouco ousam em seus figurinos e adoram o visual “estou em Londres”, usando invariavelmente preto. E aí eu pergunto: como eu posso respeitar o opinião de alguém que se diz entendido de moda e só se veste de preto? (Ó, estampa felina não vale, já que hoje elas são consideradas quase tão neutras quanto um bom black).

Mesmo entendendo que a moda se divide em estilistas que apostam corajosamente no conceitual e outros que fazem roupa pra ser usada já, tenho dificuldade de assimilar gente que tenta enfiar pela nossa goela abaixo peças que apesar de lindas conceitualmente, não saem da passarela e ainda vêm me falar que a roupa que eu uso pra valorizar meus pontos fortes não é chique. Porque fora o preto que até ajuda, minimalismos e nudes são feitos para quem é magra (beeem magra), o que não é o caso da maioria das mortais. Ou é o seu?

Por isso não acho que seja à toa que a supimpa Daniella Helayel esteja colhendo os louros do seu trabalho. A estilista preferida, entre outras, da futura princesa da Inglaterra Kate Middleton já disse que cria roupa para a mulher que quer valorizar seu corpo e se sentir mais esguia e bonita, apostando em decotes e drapeados estratégicos, tecidos fluidos e padronagens lindas para deixar qualquer moça – mesmo as que estão fora de forma – flanando e se sentindo o máximo.

Eu estou dizendo com isso que só é bonito o que é exageradamente feminino, colorido, tropical? Claro que não. Os desfiles do Fashion Rio neste começo de mês explicam melhor. Além da cor habitualmente vista na Totem, Cantão e Têca, que têm uma aquarela ousada em seu DNA, foi possível apreciar um inverno mais alegre também nas propostas da Espaço Fashion, e da Printing, elegantérrimo e colorido. Isso sem falar no desfile da Acqua Studio, arquitetônico – como manda o manual fashion vigente – porém exuberante, com formas e texturas incríveis, uma coleção barroco-minimalista, se é que isso é possível!

Assim, que ninguém em venha com “análise conjuntural” de que a crise mundial suscita uma economia de formas e cores, tornando as silhuetas discretas em sintonia com o espírito reinante, etc, etc, etc. Beleza falar isso para o final da Segunda Guerra, mas aqui pra nós, crise pra quem? O Brasil nunca esteve tão bem economicamente: é natural que este bom momento apareça também na forma de as pessoas se vestirem, com mais cor e profusão nas formas, mostrando e celebrando. Por isso, por favor: conheça-se, respeite suas preferências e sim, ouse, porque quem tem que gostar dessa linda peça que está no seu closet é você. E pronto.

(Para ver as coleções que mencionei o site da revista Elle brasileira é muito bacana:

http://elle.abril.com.br/desfiles/fashionRioinverno2011/lineup.shtml

O texto acima foi originalmente publicado no portal http://www.midiamoda.com.br/. Acesse, tem coisas superinteressantes.

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